terça-feira, 28 de dezembro de 2010

chuva lá fora


escuto o choro e na cara o sorriso

é que a vontade mesmo é de...

conectar

(pus o último ponto ao escutar o último acorde
push enter
noutro parágrafo
perfect timing!
a sincronicidade
até acabar)

...

se eu contar que ali naquele tempo aqui acabou a energia ninguém acredita.

ajuda acrescentar a playlist na ordem?

"impressão do choro e relâmpago"

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ouro sobre azul


pelos rádios fardados:

-tem uma garota vestida de laranja indo pra cachoeira...

-entendido.

-ela está sozinha, bom pregar o olho.

-...

passeava eu com orelhas ao lado
e súbito soube que era ela e lá

vago a procurar entre o verde
pendem olorosas as ásperas jácas
magenta no chão é manto de flores

surge pequena com cara sapeca
entende ou estranha o olhar
cumprimenta piscando
e vai...

dissimulando o interesse sigo caminho contrário
marco bem o rumo num ponto geográfico
adentro a gruta me estarreço a pingar

sobem calafrios nos calcários cones
sopra na orelha o hálito húmido
a terra sinto baforar

sim
era ela
e ela tinha
me deixo ir lá

fumava sentada na rocha milenar
de perto o guarda vigia era quase costas
sulcava fresca água pelo baixo corcovado
a seta trilhava o caminho redentor

fixei a informação e fui

trocamos usamos ficamos banhamos e a voar andamos com poder sobre o laje

vestia eu na camiseta um coelho
e tinha pouco antes farejado um trabalho
ela chamada alice e ainda também worcman

assim mesmo sem cá
fui eu astor
à caçar

terça-feira, 16 de novembro de 2010

abdução

prepare-se, vamos apertar o plêiade!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quimera sobre ópio e pandora

estréia hoje no auditório cícero diniz na prefeitura municipal de uberlândia as 20 horas o longa-metragem experimental "quimera sobre ópio e pandora". produção independente realizada com recursos do fundo municipal de incentivo à cultura do município de uberlândia e produzido entre os anos de 2008 e 2010 em uberlândia, araguari e guaxupé, minas gerais.


sinopse:

“o diretor e roteirista f. h. citton explora a relação entre uma escritora chamada monique e sua paixão, a dançarina nádia. num momento de suspensão em seu relacionamento, monique desvela uma busca. questões filosóficas e psicológicas permeiam seu caminho, a povoam. instigada pelas possibilidades do olhar ela adentra outros mundos. lá imagens instauram espaços oníricos, deslocam o tempo, desafiam a compreensão, são e representam a vida.”

castor

release:

"num deserto urbano vagam imagens, reflexos, miragens, sombras e projeções através de uma narrativa poética que nos traz um mito audiovisual trágico. monique é uma poetiza que, numa incomum noite, ao observar sua paixão, nádia, uma dançarina, percebe que ela está a sussurrar enquanto dorme, dessa forma atraindo monique para seus mais íntimos desejos. monique dá início a uma jornada por sonhos, alucinações, fantasias e ilusões, ou seja, por suas mais diversas realidades, e onde estas parecem não ter diferenças. são possibilidades latentes da realização da vontade. questionam os sentidos. São resultantes dos mistérios acerca de sua condição. uma experiência audiovisual que traz novas propostas imagéticas, cinemáticas e de linguagens para compor uma narrativa com diversos mundos possíveis e contraditórios. a persistência da imagem no tempo e sua relação com o desejo num filme em que se concentram conceitos de estética, psicanálise e filosofia."

flávio henrique citton


para mais informações, ficha técnica, fotos e download acesse:

www.quimerasobreopoioepandora.com


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

com carinho com afeto

gostaria de agradecer e babar um ovo ao delicioso bloger do udiposers:



a inteligência ácida trouxe uma inegável referência à memória, e como nós achamos certo sórdido gosto na autocrítica, aceito de bom grado a citação e aproveito pra te enfadar com uma historinha: há muito me tinham pela fabulosa e daí provia certo bulling, novo problema contamperâneo antigamente chamado de chacota e piadinha. eu como pseudo-cult, claro, tomo como elogio.

udoooro fitar por aí!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

vitrines


estréia hoje o curta metragem ficcional independente "vitrines".

assolado por traumas de infância um homem decide relacionar-se com o imperecível, e em sua busca por algum tipo de estabilidade descobre atrás das vitrines pessoas que faltam em sua vida, e que talvez continuarão faltando.

com narlo rodrigues
direção: carlos segundo
fotografia: renato cabral e leo crosara
direção de arte: castor
assintência de direção: julyana nassar
produção: andressa silva
realização: cass filmes e imaginare filmes

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

do local ao lugar




acabou hoje a exposição do local ao lugar onde, segundo os curadores clarissa borges e paulo faria, "buscamos pensar o conceito de LUGAR a partir da produção artística deste LOCAL que é a cidade de uberlândia." obras diversas de pintura, fotografia, colagem, escultura, objeto e vídeo puderam ser contemplados na galeria lourdes saraiva, na oficina cultural de uberlândia.


escondidinho

escondidim na encruzilhada
1/3 depois de mais dois kit táti
ferrerinha quente e abobrinha
mais aquela geladinha original

a tiazinha na calçada esfumaça
dá as vista a alguns e outrém
a lua no céu lá escondidinha
se mostra só aos de esgar além

de um lado um muro
do outro um morrim
ali nos cafundó do vigário
donde dá gira 4 no fundin

assovia a norma sem dedo na prosa
conta de quando criança historinha
uberaba campinas! de trem, imagina!?

assoprou noite toda e penou não dormiu
descobriu da boca os ocos e na curva
linguas, o sibilo aprendeu por si

no samba das mesas
voz violão bandolim
copos inquietos
no choro o traguim

uns saçis por dentro e arrepio...

são as arvrinhas da vovó
o bicho gato ou um outro
aquela placa na madeira do pilar



terça-feira, 7 de setembro de 2010

lembrança

ontem um chá de limão deflagrou um curioso acontecimento.

na bancada nada asséptica onde nos servimos à vontade as bebidas disponíveis pelos 25 reais que pagamos na entrada, num dos pulgueirinhos que se enche de noctívagos nas noites de ócio da cidade, minha vodka com chá (débil substituição do energético que já faltava) chamou a atenção. a curiosa era uma fernanda xavier que até então não conhecia e que surpreendeu-se com minha mistura. ofereci uma prova à ela e ela não gostou... nem eu, mas com guaraná era pior. dispersamos pra nos ver-mos depois.

da segunda vez, apesar de comentar-mos o chá, o assunto foi outro. ela julgava conhecer-me de algum lugar. indagada, disse que achava ser do teatro. fiquei surpreso, pois desde a última vez que pisei os palcos enquanto outrem já fazem anos... perguntei se ela lembrava que peça era mais nada... ela só tinha lembrança da minha figura. com esforço julgou ter sido no grupontapé e logo refutei a possibilidade, aquele é um dos palcos onde não me apresentei. seguimos puxando a memória, ela tinha certeza de que era eu e no entanto eu duvidava, julgava estar sendo confundido.

depois de um gole, como se tivesse engolido um cadinho de luz, aclarou-se em sua mente a imagem de um super mercado, tinha a ver com um super mercado! e de súbito eu imaginei ter solucionado a questão! ela só poderia ter-me visto nas experimentações que fizemos eu e mais uns 15 em alguns mercados do centro da cidade.

nós entrávamos dispersos como seres comuns se dando às compras, e decorridos dois minutos da entrada, minutos que contamos mentalmente, deveríamos parar em estátua fazendo o quer que estivéssemos ali... permanecíamos um tempo. o suficiente para que estranhasse-mos todo o local. achei que ela tivesse estranhado.

mas não. isso foi esse ano, durante um wokshop de bia medeiros. mas a lembrança dela era mais antiga, remontava a outra época de seus cabelos. perdurou então a intriga da possível lembrança e tentando investigar perguntei em qual super mercado era então, ela deveria lembra-se de algum detalhe pois se foi algo que a marcou...

percorrendo sua memória, focando os olhos em cima como se quisesse vislumbrar numa nuvem os caminhos que a levariam a mim, enquanto deglutia meu esôfago o último gole do chá aditivo, ela chegou no vulgo empório perto da UFU, perto de um posto, na belarmino! era lá o mercado! onde eu, vestindo um figurino de bailarina camponesa, com uma tiara floral azul e branco combinando com o vestido, fiz um sacolão.

a performance faz parte do vídeo overland* que foi exibido no grupontapé de teatro em uberlândia, novembro de 2006, como parte da apresentação das pequisas realizadas na residência artística transobjeto coletivo**. êba! depois de tanto tempo tal reconhecimento enternece a alma do artista!

mais tarde, na mesma noite conheci outro alguém que se declarou um fã. mas essa é outra história...


*overland e um vídeo idealizado por lucas laender, que filmou e editou performances de vários artistas que integravam o transobjeto coletivo e alguns de fora dele também.

**transobjeto coletivo foi uma residência artística realizada por wagner schwartz em uberlândia de outubro a novembro de 2006. onze artistas trocaram experiências durante dois meses e apresentaram suas propostas numa exibição de 4 dias no grupontapé de teatro.

sábado, 21 de agosto de 2010

...

sobre o que eu escreveria hoje? sobre ser carregado por mosquitos ou presenciar a cusparada que um deu em jesus cristo?

eu poderia detalhar um a um de maneira extremamente clara e ordenada os motivos pelo qual cada pensamento repetido sobre as vistas da cidade que me desagradam, atuam num contínuo movimento masturbatório, gerando em mim a paranóica mania de imaginar uma possível solução para o achado problema...

mas agora não. é ruim quando acaba a música e vai-se com ela a meada...

...

Ah o ska! O que os Maytals fazem que não faz o Marley! O melhor é que são curtinhas as músicas, o ragge tem vez que nossa! arrasta sabem? vai dando assim um sono que... Afe, peraí, deixa eu apertar o shuffle!!!

-Never you change (take I).

-Nunca mesmo?

Tá vou tentar outra...

-Daddy (take I).

-Oh Pai! Que se passa?! Ajuda esse escritor…

Nossa é mesmo! Eu esqueci de buscar a mensagem oculta por trás dos números das músicas e do tempo de cada canção. Merda, sem contar que não fiz a mentalização... Será que ainda dá tempo??????????? Ah, já cansei de Ska.

-Mas oh! dê uma chance!

Ok, lá vou:

-It´s no use.

-É...

Falei!

...
andando pelas abastadas ruas do jardim karaíba, onde os cara-pálida plantaram pinheirinhos no lugar dos buritis, os milhares de metros contínuos de muro dos condomínios me oprimem e eu só os quero no mínimo cobertos de trepadeiras. metros quadrados a mais de verde, imaginem...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

eu não lembrava deste post

esse post é por demais indiscreto para que venha à tona sua integralidade. talvez eu deixe salvo uma parte nos rascunhos pra mim. pra que me lembre de vez em quando dos ocorridos passados. e quem sabe fazer breves correções pra deixar a memória redonda. eu adoro a idéia de alterar os posts antigos. é como se eles maturassem salobros na rede.

eu talvez possa revelar que confrontei duas leoas.


18/07/10


*eu não lembrava deste post nem escrevi nada sobre o ocorrido. não sabia do que ele falava até ler as últimas duas palavras. e é incrível como refletir sobre ele suscita questões tão paradoxais como o evento e a memória e o tempo e a interpretação. será mesmo que as coisas são assim?

...



eu talvez não deveria me delongar. encerrar meu debate ao mistério é tentador mas se posso continuar...

após dar-me conta de que o grande caso sobre o qual eu não queria mencionar, quando primeiro escrevi tais palavras, está ainda em aberto pensei: teria sido presunçoso de minha parte escrever qualquer coisa sobre ele mesmo que eu as mantivesse apenas em meus rascunhos? e poderão ser presunçosas essas palavras por estarem sendo redigidas enquanto os eventos ainda tomam curso? mas se há a possibilidade, por que não fazê-lo. porque não refazê-los.

vejam o que quero dizer com um exemplo.

suponhamos você tenha inadvertidamente levado uma pessoa à casa de outra. essas pessoas não se conheciam, mas estavam relacionadas por uma outra pessoa em comum. um amor que encantou as duas. e digamos que por mais banal que tenha sido tal encontro ele deflagrou situações um tanto extremas, que pareciam até desastrosas e levaram pessoas a sofrer.

e eis que agora dado o devido lapso no tempo, depois de passar pelo crivo de todas as vociferações e perspectivas, depois de passar pela análise unilateral de uma informação distorcida vinda de um intriga e afe! todos os mais da canseira das picuinhas. eis que o mesmo inadvertido ato a leva a sorrir e explodir corações nos ares enquanto fala... por enquanto é claro.

desnecessário seria dizer que desejamos todos para todos e os amigos sempre do mais de melhor e tudo e tal, mas convém ser realista. a fatalidade do começo de algo é seu fim. mesmo que dure muito, e que dure!


-pois lourdinha barbosa já dizia que os eventos são quase sempre os mesmo. e nesse caso eu tomo emprestado as palavras sempre mesmas, ou quase, pra dizer algo que estou pensando e que pode ser o mesmo que alguém está pensando ou venha a pensar; e que ainda um outro alguém pode estar pensando o contrário ou discordando apenas em partes mas com uma possível tendência a enfim... estou pensando na possibilidade de que todos eventos sejam bons e ruins. se quisermos usar palavras totalizadoras. e de que eles realmente tenham acontecido de todas as maneiras interpretadas de acordo com cada perspectiva enquanto ele é processado nas cabeças e pelo tempo. e que as perspectivas mudam sempre para que se possa experimentar um todo maior do que uma parte. e quem sabe assim extrair do acontecimento a experiência ou um conceito da verdade. ou que apenas se possa senti-la. ou que ela se processe pelos trovões do inconsciente-


por hora os eventos ainda estão em curso e não ouso julgar-me culpado por algo que me escapa ao controle. sigo então com a impressão de que certos eventos podem ter uma função expiatória. e que cabe a mim deflagra-los.

pois que eles aconteçam, maturem e sejam muito bem interpretados!


...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

um

é fato. a lua cheia me afeta. e a minguante com vênus em aspecto tenso então...

saí atrás de uma amiga pra melhorar o humor que começara a pesar com o cair da luz sobre a noite. a solidão me emburrava e pensava no par, naquele que me acompanharia para sermos juntos dois.

encontrei-a para um passeio e conversamos sobre várias coisas, inclusive sobre o motivo do meu bico. e num breve intervalo de silêncio ela pediu pra que eu escolhesse o número um ou o número dois.

na minha cabeça formou-se uma imagem de mim em pé sozinho. logo esta se confrontou com a imagem de mim ao lado de alguém com sorrisos e mãos dadas. o enternecimento comoveu e escolhi o dois.

intrigado indaguei sobre qual dilema ela me consultava. disse que estava de viagem marcada com a namorada e que por alguns motivos começava a considerar a hipótese de não ir. se ela não fosse não se encontraria com a namorada. se fosse poderiam ser emparelhadas e felizes como vi na minha imagem as duas.

só que ela já havia deliberado antes que o dois é o não.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

ciclo das águas

enquanto andava as margens do rio em ipanema prestes a mergulhar o frio da onda e deixar-me encobrir e abençoar, ao olhar pra baixo através da refração da salobra água, achei um óculos que cego pousava náufrago no macio da areia. no impulso de ir ao encontro da nova onda abaixei-me para pegá-lo. era simples, grande mas não exagerado e de armação reta na sobrancelha, o que agradou meu semblante. a lente com tom quente, puxando rosáceos que alegram o horizonte.

voltei com o tal à canga seca onde estavam minha amiga e um outro tal que se fez simpático o bastante pra ganhar espaço na sombrinha do mineiro. belo e estranho o sujeito. um daqueles parasitas que encantam mas não convencem. sua presença durou pouco e não posso dizer que foi agradável, senão estranha. além da latinha que eu paguei pra ele pediu-me também o achado assim como pedem o fogo emprestado. eu confessei já ter pensado em dá-lo mesmo, mas não o fiz.

ele foi sem levar nem a simpatia.

eu fiquei com o tesouro e o trouxe pra essa terra firme.

aqui ele ficou quieto entre objetos que fazem minha estante. nunca foi mais que um achado e nunca teve importância até o dia em que esqueci o meu corriqueiro na casa de uma amiga.

daí ele voltou a ser aquilo que deveria, não um bibelô de escrivaninha, mas um óculos de sol. creio que foi a necessidade, mas antes eu não o tinha achado tão belo, como acontece com pessoas que só nos chamam a atenção depois de certo convívio. passei a usá-lo em sua plenitude e nos dávamos bem. parecia promissora a relação e eu já agradecia a providência que atentou-me para tal. até que ela mesma tirou-o de mim.

amanheci tarde e no ócio do dia aceitei o convite de paikea, meu amigo baleia, para acompanhá-lo à humidade da cachoeira. as gotículas nos poros e o cheiro líquido lhe restauram, cetáceo de sertão coça com o que tem. e lá, na onda do momento, atendendo ao pedido do coro das águas que falava por ele, deixei-me convencer de que não seria má ideia sentar-me no banquinho imaginário sobre o qual paikea, com grossas pernas de tenras postas, sentava-se na rocha. a súbita ideia de que eu deveria dar-me ao tal ridículo, já que mal não há, levou-me a subir no referido rochedo que estava ás margens da água que desce metros pela mirandinha e dobrar os joelhos pra sentar fazendo o inevitável gesto de inclinar o dorso para a frente. e o tal dois olhos, que protegera os meus até então, saltou do meu colo donde pendurava-se para cair de volta à fluidez das correntezas...

quiseram até pegá-lo se fosse possível e chegaram mesmo a procurar.
mas eu já o tinha resignadamente dado, como o recebi.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

"pára-raio de loucos"

faltava a imagem pra que eu pudesse dizer do ocorrido.

deu-se durante as gravações do filme quimera sobre ópio e pandora. e não é estranho que apenas a partir da impressão gerada pelo encontro do registro do ocorrido com a memória eu poderia tentar traduzir a arte.

do tipo matreira, que as mães desesperadamente tentam convencer-nos a evitar. aquela em que depois de um dia inédito de desafios seu pé o conduz a uma queda perigosa amparada apenas pela dureza de sua testa com a ajuda de um punho firme que se que dou luxado.

tomei muito boa conta de minha situação. o zunido repentino acordou-me pro fato de eu ter despencado no meio das gravações. ali no chão, ao lado da fonte, já de costas com pezinhos pra cima, eu rapidamente tratei de mexer neles os dedões e os mindinhos, conferindo em voz alta para que se fizesse saber às presentes cabeças que circundavam inclinadas: tudo estava bem. continuei com as mãos e braços até que a listagem da avaria chegou inevitável à cabeça, onde eu sentia a bola volumétrica preenchendo minha palma. grande o galo.

constatei também que ele seria de briga. ao tirar a mão para que se inspecionasse a feiúra daquela coisa latente as reações foram diversas... a maioria me escapa, mais poderia ter-me causado maior preocupação e um eventual descontrole observar o horror e a extrema preocupação em duas delas. isso se eu não estivesse sóbrio como estava. era minha a situação.

fiz-me levar para o hospital. levantei com uma breve a válida ajuda que me acompanhou desde então e passou comigo pelo médico, pela injeção de vitamina e soro, acompanhou o choro e o riso, contou e escutou anedotas nas duas horas que se passaram.... e por fim acompanhou-me a pé na volta do hospital. eu estava bem e já digeria o ocorrido, arrisco dizer que com uma sensação de contentamento. só queria estar bem e voltar à fita.

o curativo foi murchando durante a noite, sinal que meu córneo desinchava. antes de dormir tirei-o e vi pela primeira vez o acidentado. ao espelho lembrei-me de seres hipercéfalos. o ângulo formado pelo inchaço com a protuberância óssea da minha sobrancelha formava um aspecto particularmente engraçado, o que não passou despercebido pelas companheiras de quarto.

repassando fatos e ponderando ocorridos fomos os três pra cama dormir, ou ao menos tentar. eu estava a toda e não podia deixar de pensar nos fatos, extrair deles um sentido. pus-me em posição meditativa para acalmar-me e entrei em tal estado com uma rapidez e facilidade raras. daí o que sucedeu é para mim demasiado misterioso para que tente traduzir. mas ao que me parece, conectamo-nos naquele estado de vigília.

no outro dia, num dado momento de breve descanso depois do almoço, numa saleta que ficou conhecida como "a dos livros", deitei no tapete e no colo de uma garota jaca. ela bruxuleava um jogo de magia autoral com os inúmeros livros que a circundava. a consulta oracular baseava-se em relatar àquela um pensamento ou sensação acerca do dia. feito isso ela buscava com acerto displicente um livro iluminador e o abria escolhendo uma passagem quase ao acaso.

minha questão foi a queda e o galo, que apesar de manso cacarejava uma dorzinha de nada. escolhido o livro a mensagem veio incisiva e acertada. ela abriu os poemas de alberto caeiro e leu-me o do dia 07/11/1915:

"Se eu morrer novo,
sem poder publicar livro nenhum
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não tem sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído."






*o título é uma referência ao livro homônimo do borboleta, que aparece em primeiro plano na imagem, registrada por crônicamente orgânica, a cuja sugestão não pude resistir.

terça-feira, 1 de junho de 2010

das gafe

dei uma das grandes dia desses...

eis que nos confins do domingo, um tanto após o deitar do sol, já nos últimas tragos do pesado ar das ruas do centro da cidade enquanto tomava um sorvete, altamente laricado, recebi um telefonema.

naturalmente eu não o antendi. já estava nas últimas mesmo e antes que me atiçassem pra mais, preferi a minha atual reclusão, o que requeria que eu simplismente retornasse o telemóvel para o bolso. e assim o fiz...

mas só para ser flagrado pelo querido que me ligava há cerca de três metros de mim, fitando-me enquanto eu displicentemente exclamava meu desejo de não atendê-lo e fazia o referido gesto de guardar.

naturalmente, também, fui surpreendido por um interrogavelmente exclamante: "ah então você não vai me atender?!"

desnessário seria dizer o quão embaroçoso foi para mim aquele momento. aqui acrescento que ele só não o foi mais pela sincera banalidade dos meus motivos, e julgo agora necessário ponderar, com o devido distanciamento e como exercício de memória e até mesmo de auto-entendimento, que ao contrário do que eu poderia esperar de mim mesmo, não fui surpreendido pelo gelar típico das descargas de adrenalina que surgem quando a gente faz uma cagada.

eu sinceramente não queria atendê-lo, e sinceramente olhando-o fundo nos olhos respondi prontamente: "não, realmente hoje eu não ia te atender..."

sei que no meu olhar o pedido de desculpas, que era necessário apenas para que ele soubesse que não se tratava de algo pessoal, pelo menos não no que tange a ele, estava implícito ao ponto de agora eu não me recordar com certeza se o verbalizei ou não.

na dúvida me desculpo agora publicamente por estar chapado e cansado demais para atendê-lo. e acrescento que não há um motivo que possa ser relacionado diretamente a sua pessoa visto que eu teria feito o mesmo com qualquer outra naquele momento, ou seja, espero fervorosamente que meu ato não gere em ti desconfiança nem rancor.

desculpo-me sinceramente.
e faço agora uma promessa:
"olharei sempre e bem em volta antes de desvelar tal negativa quando assim me der".

o que não será tão difícil, visto que assim quase nunca faço.

terça-feira, 11 de maio de 2010

carta aberta

* essa é daquelas que a gente quer enviar mas não manda, que aqui sirva a quem aprouver.

Caros,

Não é sem dor nem medo que venho dizer-vos o inevitável: tal amor não se sustenta mais, tenho que vos deixar.

A convivência o aprendizado e os horizontes foram tão bons quanto únicos e nada poderia tê-los me proporcionado ao não ser vocês.

Há uma passagem que reflete bem o quero dizer, e por ter sido a mim endereçada como possível condensação textual de uma específica época, creio justo replicá-la:

“Sol e Lua entram em harmonia permitindo a você uma consciência mais crítica acerca das coisas que estão em sua vida, mas que não servem mais. Este é um momento de depuração muito forte, em que o joio é separado do trigo e, deste modo, você pode renovar sua vida. Aproveite para descansar e fazer uma análise honesta daquilo que você pode até gostar, mas que não faz mais sentido prático em sua existência“.

Passei aí, por aí e acolá dos melhores momentos de minha vida, e não é mentira. Mas pra seguir temos as vezes que deixar pra trás simplesmente porque às vezes pesa. E nesse sentido o peso não tem me deixado mais.

Preciso mais do que a vontade de fazer algo mesmo sem saber como. Sou sim de alma menina e por aqui preciso aprender como. Eu poderia ser um bom autodidata, mas quis que eu fosse indisciplinado e irresponsável enquanto aprendiz, o que logo inviabiliza essa possibilidade, mas estou à procura de meios para sê-lo, trabalhando sob supervisão, pressão e altas expectativas para que me atente ao fato de que não posso mais ser aquele menino. E de que não quero.

As urgências do quarto de século gritam. Quero viver 100 anos. E se em um quarto de nossa vida formos jovens, na meta dela adultos e o restante velhos, me parece uma boa equação.

Eu queria poder, juro que queria.

E quero sim que o caminho continue que seja uma estrada daquelas boas de caminhar, que dá certo medo quando faz escorregar e ilumina com tons a alma e a vista quando se chega lá em cima pra ver.

Espero que nos encontremos nessa trilha fractal que pela vida criamos sem saber onde vai dar. Mas ansiando que seja lá em cima.

Desculpas pelo tom, mas é difícil falar de amor e o som do lixo polifônico.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Castor Co. LTD.

a descrição não é sobre mim:

"Standard castors, fixed castors, braked castors, bolthole castors, grey non marking castors, nylon castors, roller castors, rubber castors, specialist castors, phenolic castors, green castors, plastic castors, tyred castors, steel castors, stainless castors, blue castors, elastic castor, aluminium castors - you name it, we can supply it!"

mas poderia.

segunda-feira, 15 de março de 2010

baiacu

minha mãe achou em sua gaveta um baiacu
eu o ganhei como um ato de ternura
e o perdi sem dar falta.

é que talvez, de tão cheio de querê-la
tenha me tornado grande demais pra abocanhar...

eu vestia na camiseta um polvo,
achei que o baiacu ornaria bem
e saí a convite dela pra comprar um presente.

imagina o tamanho da surpresa
vê-la levar-me ao encontro daquele que de baiacu me encheu...
surpresa nenhuma, a vida tem dessas.

poderia eu ter ficado consternado, intrigado ou surpreso
o fato é que estou deveras acostumado
outra falta de coincidência banal.

mais tarde no mesmo dia eu ficaria realmente abalado.

escreversobreefeitoadocicadopodesertãoconfusoeesclarecedorquantoseestasobretalefeitoecascoisasvãoacontecendocheiasdeaparentemaiorsignificadoederepentedeumladoseuocomeçodoseupassadopersonificadonumapresençaedeoutroopassadorecentepersonifcadoemoutraoquemelevouafocarmenomeupresenteeemmimlutandocontraatendenciadeabsorvercomamaiorfulgoroambienteexpandirmeporentreeleparaabsorvertudooquepodemedarcomonumaascençãopretensamentecósmicaesendoassimacerqueimedomenorângulodevisãoedanceitãofocadoemimnoqueeunãoqueriaveroupensarqueinduzimeaacreditarquerelamentestavanoutrolugare só.

mas um feminino rosto louro de feições conhecidas
buscando incessante meu fitar
arrancou-me de mim.

trazia com ela água para encher-me baiacu...

quinta-feira, 11 de março de 2010

pelo acaso dos rios

tenho pensados nos meus caminhos, nas possibilidades dadas com o ângulo da curva e nas dúvidas inerentes à encruzilhada, que sabidamente leva-nos a um lugar mas priva-nos do outro.

andei "como afluentes de rios se perdendo e se encontrando no tempo e no acaso" e pelas andanças com pé de cachorro (pra valer a citação acima com ou sem "crachá nos dentes") além dos castores, dos rios que cortam e compõe, da preta fuligem de gás ou querosene que leva , das brancas carreiras que surgem e ascendem, e da esperança, talvez pretensa, que vem com o novo como em janeiro, dei intrigantes nós.

é que nas três novas cidades que pisei : rio preto, rio branco e rio de janeiro, busquei entender-me ao ampliar o horizonte. além do óbvio, que o novo vem como água de rio que nunca é a mesma, alguns sinais do caminho eu anseio por entender.
começou com a perseguição da preta gil. foi assim, em rio preto houve a possibilidade veementemente negada de vê-la num bar gay. em rio branco houve a surpresa de encontrá-la balançando uns 30 mil na parada gay. já no rio de janeiro eu escolhi vê-la de novo mesmo, só pra fechar o ciclo. eu não super estimo os poderes da preta, apesar de hilariante, mas coincidência é o caralho!
pode paracer uma boabagem infantil procurar nexo num evento tão banal, mas eles nunca acontecem isolados.
se acrescento que nessa lisérgica noite carioca uma conterrânea achou-me, por acaso, na multidão quando justamente eu julgava-me invisível. ou se conto que ao andar em ipanema pensando quão agradável seria fumar topo outro conterrâneo, por acaso, fazendo justamente o corre. se lembro-me que vendo o pôr do sol na pedra do arpoador recebi uma ligação dizendo que a yêda morreu... a magia de saber que um dos seus se foi enquanto assisti-se ir aquele que sabemos, volta, acrescida da inegável sugestão dada pelo nome da pedra onde eu, por acaso, estava.

talvez sabendo que vagando ébrio pela lapa a procura de um olhar simpático eu o encontrei argentino tomando um chopp solitário escutando a bossa que a moça cantava e, por acaso, chamado martin. justamente martin, o nome daquele que me hospedou quando à argentina fui. quem sabe lembrando que fui ao rio de janeiro fazer uma entrevista que, por acaso, se passou na avenida rio branco, precisamente no edifício rio branco! décimo terceiro andar, sala 1308, o mesmo número estampado no metrô que, por acaso, levou-me pra casa naquele dia. talvez ao saber que por acaso eu fiz um taxista carioca entrar pela primeira vez, assim como eu, na ladeira do castro onde eu, castor, hospedei-me.

se me arrebata tudo isso é porque em certa medida o fiz acontecer em concordância com todos os outros agentes como num acerto cósmico. o que me deixa pensando se, por caso, eu estava no lugar certo na hora certa fazendo exatamente o que devia...

o cajazeiro que me apareceu em pencas no jardim botânico dando-me o primeiro cajá, cujo suco conheci em rio branco, disse-me que sim.

domingo, 10 de janeiro de 2010

são pá

de volta da velha São Paulo quase nada o velho repetiu

as novas ruas deram em ângulos de prédios com torções nunca vistas
a gigante vazia dormia antes da badalada enquanto castores andavam pela arquitetura
“roer para costruir”

troquei antes pacote de pampers por doce
é incrível como pode recompensar-se o dar por si só assim tão rápido
parei na esquina arrebatado pelo “o que fazer?” durante o tempo certo

e no encontro da virada a recorrência de um Lucas
Lúcia no céu e a influência de um olho de Shiva que não jaz,
contudo já quis

anjo, o Gabriel abria asas ao lado entendo mais do mundo
aquele que ele tinha acabado de reconhecer
o de onde as coisas são incríveis e fazem sentido

velhos amigos nas novas paradas e ternurinha de caminhos cruzados

traz luz a presença

charrlieee...

chá da manhã com Carla a travesti e um desconhecido
nada como o novo
um pouco de carinho e passeio nas ruas dos Mcs
novas trilhas de mais do mesmo

velando sempre no alto da chaminé a casa da irmã e os dejetos do cão
um Mojica das unhas largas que em nada lembra o de Cuiabá
sobrevoando pizzas girei o sol

sampa dá muito de uma vez e se agrada cansa