segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

the guava

the guava é o título provisório, ou não
do poema longo (?) que foi postado aos poucos
e que correspondem os cinco últimos posts deste mês.

sua ordem proposta segue a enumeração
e ele está ainda em estado de amadurecimento.
conforme passa o tempo e correm sobre ele os olhos
ele matura e quem sabe um dia fica um pouco mais redondinho
e gostoso.

pode ser que apodreça também.

até!


cat


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

# 5

depois de embalado pelo berço salgado
sono

se pudermos transcrever sonhos e ninar
talvez possamos ver o elo dos halos
no lapso do tempo
eclipsar

cedo acordei vazio
há vida e doem as pernas
com a satisfação imensa
mas no estomâgo falta

quiseram comigo ir logo ali
eu a princípio não quis
mas que faço?

'se não agrada o lugar que agrade a companhia

bem apessoado até
toda aquela infinidade de combinações possíveis
mas sei o quero e exatamente o mais barato dos líquidos
recheio sem carne

ainda assim me projetei pro interior da estufa
enquanto atendiam aquele casal ao lado

será qual desses é o maior deles
aquele tem fiapos de frango
parecem melhor
morenos
e tal

-no sakolinya, no

-hãn?

-no prrecisssa sakoll

daí ela faz um arco só e olha ao lado
dá pra ver onde terá marcas de expressão
ainda assim não precisei sair da estufa

-eles não querem levar a comida nas sacolas plásticas eu quero um desse

não sei
estava absorto
tantos sauces álamos amieiros

demorou pra sentir aquele peso me fitar

represado dei com o olhos de um par de linces
cresceram às minhas margens dois plátanos bastardos
mostravam dentes amistosos como conhecidos
não os temia contudo

surpreso quase demorei a entender
sou pra eles aquele que comia a fruta

-how random!

e segue um breve diálogo de amenidades
pra fingir que não intriga essa força
nem o conceito invertido
daquela palavra

somos
e até

---

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

# 4

imagino essa descida farta como está de felicidades
e o santo ajuda na volta à casa de mamãe oxum

arrebatou-me a visão da garrafa!

fluido se purificando
era quase possível decifrar as notas que ali naquela pedra tomada viva de dureza
o fluxo das águas jorrava pelo bocal

verti uns goles de paz súbita e sapiência

se está certo ainda que torto tanto melhor
que o descuido seja sempre um pretexto pra outra benção

sento com meus pontos alinhados
vibrando em espiral agradeço a oportunidade
olho em volta a massa viva de abrangência espectral é ruidosa
ser que espanta solidão

se ao menos houvesse aqui um amigo a mais para compartilhar

e claro
uma bruxa me toca

não impressiona dar sinal na tijuca
mas intriga saber que deslocado das gerais
não há crédito pra roamimg

-ferí?

do sorriso a enxurrada que tenta levar a excitação além
toda ela

-é um privilégio compartilhar com ti!

e há mais tempo nesses segundos

'apenas se não pensar neles

tu tudo mudo

senda e
mar

---

domingo, 23 de janeiro de 2011

# 3

à sombra de um santo
parei

na interceção dos fluxos
insinuando cinza morro acima
através de esquadrias envidraçadas
olhos grandes de zoológico em mim

tangerina no asfalto

num momento comi uma banana
noutro

outra

sigo entre nuvens vislumbres de um futuro janeiro
encontro distintos seres no caminho
o destino é ao menos alguns

lá em cima o céu é burocrático
[muito pequeno espaço para um protesto]

mas no sopé daquela pretensa grandeza
o homem entre a névoa mística e o poder do sol
funde a sombra na imagem semelhante

o burburinho fotográfico e as bugingangas embora fartos àquela altura
não sobrepujam o silencio que abrange o miolo de uma goiaba
morder como um deus aquelas crostas e tirar dela os seus

sementes enchem de espaço e possibilidades

é difícil não estar tão absurdamente entregue à mastigar a realidade que se lhe apresenta

em inglês dois gringos conversam próximos
questionam dúvidas sobre a cidade que se suporta
vista abaixo

-seria a margem de lá ainda rio?

apesar de absorto nos horizontes interví
disse-lhes que não

'lá é sempre outro lugar?

olhei mas não os ví
ela entretanto olava a goiaba
não havia porém meios de precisar seu olhar
desviar-me seria talvez um disparate diante da visão

gentis agradeceram pelo que levaram e foram

e me levaram

sigo
e mais

---


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

# 2

levo plantas mágicas
cantigam louvores sabiás
o ritual demanda que ascendam trocas
compõe a refloresta os tons entre tantas vidas e eu

passeio o caminho já trilhado por índios negras futuristas
a exuberância não é menor que a diversidade
e aqui o tempo nunca pôde ser outro

deixa escutar saguis que não estão em seus cânticos
escravas lavam mais roupa que alma em poças do rego
até entrever formas geométricas nos dorsos em brasa
o cheiro do café torrado empesteando ares da jurema

'aqui o tempo acontece na medida do pensamento

se se pergunta pois se não há que ser cuidadoso por estar só
já que pode aparecer uma
serpente
ainda que gente
se esverdeando pelo caminho
ela aparece

e se compreende

já é possível codificar a mensagem do assovio que fazem as gotas ao atravessar os poros
no peso da subida degraus são raízes que mantem no chão e ajudam nos passos
junto delas envolvido em seu abraço o calor se sente humano e mais
os troncos corrimãos amigas que amparam gentileza
não faltam toques sempre dão força mas
há sede

'a água que trazia ficou na cachoeira abaixo enquanto preparava a cabeça pra benção
apenas por ter pensado que assim poderia suceder se dela descuidasse

contudo
mexericas e paciência

cravei o indicador nos gomos e senti

seguindo caminho com olhos de quem persegue um cheiro pelo ar
cheguei num rio de troncos secos a tempo de ver o monstro
subindo pela curva que faz a
esquerda

tem quem page mais de 40 ladrões pra chegar rapidinho ao céu

trilhos
e paro

---


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

# 1

acordei e era o sol

nas curvas dela o cheiro verde da atlântica escorria
o véu anil se espalhava fractal
nós braços abertos

preciso e só
sapatos de cânhamo e borracha
calças curtas pra deixar ver a paisagem
levo o peso de uma possível camisa xadrez pro frio
o livro que leio quando quero abduzir
duas bananas duas mexericas
uma goiaba
e água

me elevarei a lá

trotei do quinto andar
até a júlio de castilhos
dei a volta no pavão
passeei pelo vinícius

cá cheguei na água parada

'aqui sempre olho pra trás
tem uma curva de concreto que paira a metros do pavãozinho

segui o caminho dos socós que voavam seu jardim
pra pousar de novo o dos lage

sem querer entrei num reino aquático
contemplei fundo olhos de um tubarão

'é que a sabedoria meu filho é o começo de um labirinto

um
e parto

---